terça-feira, 13 de maio de 2008

"A História do Maravilhoso", Sr. Figuier, 1860


Guillaume Louis Figuier (1819-1894) foi um cientista e escritor francês. Tornou-se professor de química na "Ecole de Pharmacie" de Montpellier. Doutor em Medicina (1841), ensinou farmacologia, química e física (1844-1853) e ganhou seu PhD em (1850).

Figuier foi nomeado professor na "Ecole de Pharmacie" de Paris após deixar Montpellier. Publicou um anuário em 1859 - "L'Année Scientifique et industrielle" (ou "Exposé annuel des travaux") - em que compilou um inventário das descobertas científicas do ano.

Figuier também tentou criar um novo gênero, o "teatro científico", uma série de peças com o grande herói sendo inventores ou grandes cientistas, mas o público não seguiu esse movimento. Em 1855, Figuier substituiu Victor Meunier como editor da revista científica "La Presse". Seus artigos publicados semanalmente desde 1856 até à sua morte, foram coletados em um volume intitulado "Année scientifique et industrielle ou Exposé annuel des travaux". Este era um inventário exato das produções científicas do ano.

Ele é o autor de numerosas obras como:

- Les Grandes inventions anciennes et modernes (As Grandes invenções antigas e modernas) (1861);
- Le Savant du foyer (O Cientista da casa) (1862);
- La Terre avant le déluge (A Terra antes do dilúvio) (1863);
- La Terre et les mers (A Terra e os mares) (1864);
- Les Merveilles de la science (As Maravilhas da ciência) (1867-1891).

Foi também o criador e editor da "Ciência ilustrada", revista semanal para popularização da ciência em que participaram, entre outros autores, Julio Verne, Louis-Henri Boussenard e Camille Flammarion.

O Sr. Figuier publicou uma obra, em 4 volumes, "A História do Maravilhoso nos Tempos Modernos", de 1860.

Na Revista Espírita podemos encontrar a seguinte descrição:

"Sua obra compreende quatro volumes; os dois primeiros contêm de início uma exposição de princípios num prefácio e uma introdução, depois um relato de fatos perfeitamente conhecidos, que se lera, contudo, com interesse, por causadas pesquisas eruditas que ocorreram da parte do autor; é, nós o cremos, o relato mais completo que disso se publicou.

Assim, o primeiro volume é quase inteiramente consagrado à história de Urbain Grandier e dos religiosos de Loudun; vêm em seguida os convulsionários de Saint-Médard, a história dos profetas protestantes, a varinha adivinhatória, o magnetismo animal.

O quarto volume, que acaba de aparecer, trata especialmente das mesas girantes e dos Espíritos batedores." (Revista Espírita, setembro de 1860)

Allan Kardec se refere ao Sr. Figuier da seguinte maneira:

"pensamos encontrar nele um adversário verdadeiramente sério, trazendo enfim argumentos peremptórios que valessem o trabalho de uma refutação séria.

(...)

ele escreveu de maneira séria, e não se arrasta na lama de injúrias grosseiras e de personalismos, únicos argumentos dos críticos de baixa classe.

(...)

O Sr. Figuier é um sábio; ele escreve seriamente, e se apoia sobre o testemunho de alguns sábios; pode-se, pois, olhar-se o livro como a última palavra da ciência oficial sobre o Espiritismo, e essa palavra é: A negação de todo princípio inteligente fora da matéria.

(...)

Proibir um livro é provar que se o teme; nós convidamos a ler o do Sr. Figuier". (Allan Kardec)

No sítio da Wikipédia é possível encontrar uma extensa lista de suas obras:

http://fr.wikipedia.org/wiki/Louis_Figuier




Os 4 volumes da obra "A História do Maravilhoso" são:

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1860, Volume um
- Les Diables de Loudun.
- Les Convulsionnaires jansénistes.

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1860, Volume dois
- Les Prophètes Protestants.
- La Baguette Divinatoire.

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1860, Volume três
- O magnetismo animal.

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1861, Volume quatro
- As mesas girantes.
- Os médiuns e os espíritos.




Nas edições da Revista Espírita deste mesmo período encontramos as seguintes anotações:

História do Maravilhoso e do Sobrenatural, Revista Espírita, setembro de 1860

"É um pouco da palavra maravilhoso como da palavra alma; há um sentido elástico que pode dar lugar a interpretações diversas; por isso, acreditamos útil colocar alguns princípios gerais no artigo precedente, antes de abordar o exame da história que nos dá o Sr. Figuier.

Quando essa obra apareceu [o livro do Sr. Figuier], os adversários do Espiritismo bateram as mãos dizendo que, sem dúvida, teríamos pela frente um forte adversário; em seu caridoso pensamento, já nos viam mortos sem retorno; tristes efeitos da cegueira passional e irrefletida; porque, se se dessem ao trabalho de observar o que querem demolir, veriam que o Espiritismo será um dia, e isso mais cedo do que crêem, a salvaguarda da sociedade, e talvez mesmo lhe deverão a sua salvação, não dizemos no outro mundo, com o qual pouco se inquietam, mas neste! Não é levianamente que dizemos estas palavras; não chegou ainda o tempo de desenvolvê-las; mas muitos já nos compreendem.

Voltando ao Sr. Figuier, nós mesmos pensamos encontrar nele um adversário verdadeiramente sério, trazendo enfim argumentos peremptórios que valessem o trabalho de uma refutação séria.

Sua obra compreende quatro volumes; os dois primeiros contêm de início uma exposição de princípios num prefácio e uma introdução, depois um relato de fatos perfeitamente conhecidos, que se lera, contudo, com interesse, por causadas pesquisas eruditas que ocorreram da parte do autor; é, nós o cremos, o relato mais completo que disso se publicou.

Assim, o primeiro volume é quase inteiramente consagrado à história de Urbain Grandier e dos religiosos de Loudun; vêm em seguida os convulsionários de Saint-Médard, a história dos profetas protestantes, a varinha adivinhatória, o magnetismo animal.

O quarto volume, que acaba de aparecer, trata especialmente das mesas girantes e dos Espíritos batedores. Retornaremos mais tarde sobre este último volume, nos limitando, por hoje, a uma apreciação sumária do conjunto. (...)"

Dois meses depois:

História do Maravilhoso, Revista Espírita, dezembro de 1860

"Falando do Sr. Louis Figuier, em nosso primeiro artigo, procuramos, antes de tudo, qual fora o seu ponto de partida, e demonstramos, citando textualmente as suas palavras, que ele se apoia sobre a negação de todo poder fora da humanidade corpórea; as suas premissas devem fazer pressentir a sua conclusão.

O seu quarto volume, aquele que deveria tratar especialmente a questão das mesas girantes e dos médiuns, não aparecera ainda, e nós o esperamos para ver se daria, desses fenômenos, uma explicação mais satisfatória do que aquela do Sr. Jobert (de Lambale) [a teoria do músculo estalante].

Nós o lemos com cuidado, e o que dele ressalta mais claro para nós, é que o autor tratou de uma questão que ele não conhecia de modo nenhum; para isso não queremos outra prova senão as duas primeiras linhas assim concebidas: "Antes de abordar a história das mesas girantes e dos médiuns, cujas manifestações são todas modernas, etc."

Como o Sr. Figuier não sabe que Tertuliano fala em termos explícitos das mesas girantes e falantes;

que os Chineses conhecem esse fenômeno de tempos imemoriais;

que é praticada entre os Tártaros e os Siberianos;

que há médiuns entre os Tibetanos;

que os havia entre os Assírios, os Gregos e os Egípcios;

que todos os princípios fundamentais do Espiritismo se encontram nos filósofos sânscritos?

É falso, pois, avançar que essas manifestações são todas modernas; os modernos nada inventaram a esse respeito, e os Espíritas se apoiam sobre a antigüidade e a universalidade de sua doutrina, o que o Sr. Figuier deveria saber antes de ter a pretensão de fazer-lhe um tratado ex-professo.

Sua obra não teve menos as honras da imprensa, que se apressou em render homenagem a esse campeão das idéias materialistas. (...)"

Adicionando mais uma ponte a essa leitura, poderemos ver mais sobre o Sr. Jobert e a teoria do Músculo Estalante no seguinte artigo:

O músculo fanfarrão, refutação da teoria do senhor M. Jobert (de Lamballe) sobre as manifestações físicas dos Espíritos, Revista Espírita, junho de 1859

Um trecho: "Os adversários do Espiritismo acabam de fazer uma descoberta que deverá contrariar muito os "Espíritos batedores"; é para eles um golpe, do qual terão muita dificuldade para se levantarem. Que devem pensar, com efeito, da terrível estocada que acabam de lhes dar o senhor Schiff, e depois o senhor Jobert (de Lamballe), e depois o senhor Velpeau? (...)"

Voltando ao Sr. Figuier...

Penúria dos médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1861

"(...)

'A História do Maravilhoso nos Tempos Modernos', pelo Sr. Figuier, é interessante sob outro ponto de vista. Há também fatos longamente e minuciosamente narrados que aí se encontram, não se sabe bem porquê, mas que é bom conhecer.

Quanto aos fenômenos espíritas, propriamente ditos, ocupa a parte menos considerável de seus quatro volumes.

Ao passo que o Sr. de Mirville explica tudo pelo diabo, que outros explicam tudo pelos anjos, o Sr. Figuier, que não crê nem nos diabos, nem nos anjos, nem nos Espíritos bons ou maus, explica tudo, ou crê tudo explicar, pelo organismo humano.

O Sr. Figuier é um sábio; ele escreve seriamente, e se apoia sobre o testemunho de alguns sábios; pode-se, pois, olhar-se o livro como a última palavra da ciência oficial sobre o Espiritismo, e essa palavra é: "A negação de todo princípio inteligente fora da matéria".

Estamos tristes de que a ciência seja posta a serviço de uma causa tão triste, ela, porém, não é disso responsável, ela que desvenda sem cessar as maravilhas da criação, e que escreve o nome de Deus sobre cada folha, sobre a asa de cada inseto; os culpados são aqueles que se esforçam em persuadir em seu nome de que, depois da morte, não há mais esperança.

Os Espíritas verão, pois, por esse livro, em que se reduzem os raios terríveis que devem aniquilar as suas crenças; aqueles que o medo de um fracasso poderia abalar, serão fortalecidos vendo a pobreza dos argumentos que lhe são opostos, as contradições sem número que resultam da ignorância e da falta de observação dos fatos.

Sob esse aspecto, essa leitura pode lhe ser útil, não fosse senão para poder dele falar com mais conhecimento de causa, o que não o faz o autor a respeito do Espiritismo, que ele nega sem tê-lo estudado, pelo único motivo que ele nega toda força extra-humana.

Não é de se temer o contágio de semelhantes idéias; elas carregam consigo o seu antídoto: a repulsa instintiva do homem pelo nada.

Proibir um livro é provar que se o teme; nós convidamos a ler o do Sr. Figuier.

(...)"

Um mês depois:

Apreciação da História do maravilhoso, Revista Espírita, abril de 1861

[Apresenta trechos de um extenso artigo do Sr. Escande, redator da Mode Nouvelle, com uma apreciação do livro do Sr. Figuier]

"(...)

Resulta disso que a essa história do maravilhoso falta, ao mesmo tempo, autoridade e proporções. Do ponto de vista dogmático, ela não ultrapassa as negações dos negadores anteriores, não acrescenta nenhum argumento que já desenvolveram, e nessa questão, como em todas outras, não compreendemos a utilidade dos ecos.

Há mais: atormentado pelo desejo de parecer fazer melhor do que Calmeil, Esquiros, Montègre, Hecquet e tantos outros que o precederam, e serão sempre os seus mestres, o Sr. Louis Figuier se perde freqüentemente no labirinto confuso de demonstrações que lhes toma emprestado, querendo apropriá-las, e acaba, às vezes, por rivalizar de lógica com o Sr. Babinet.

Quanto aos fatos, ele os acumulou em imensa quantidade, embora um pouco ao acaso, mutilando uns, afastando outros, se interessando em reproduzir de preferência aqueles que pudessem oferecer um certo atrativo à leitura; o que prova que ele visou principalmente um sucesso fácil, a lutar com interesse com os romancistas atuais, e nos perguntamos como não convidou o editor para compreender a sua obra na "divertida Bibliothèque dês chemins de fer", a fim de que fosse mais direto em direção dessa multidão de leitores que lêem para se distrair e de nenhum modo para instruir-se.

E seu livro é divertido, não o contestamos, se basta a um livro, para possuir esse mérito parecer-se a uma coleção de anedotas composta de historietas acumuladas em face do pitoresco, sem muito cuidado com a verdade; o que não impede de vangloriar-se com isso, a propósito e fora de propósito, de sua imparcialidade, de veracidade: - uma pretensão a mais a acrescentar a todas aquelas que revelamos, e na qual ele se impertiga com tanto mais afetação, que não dissimula o quanto ela lhe faz falta. - Tal como é, não saberíamos melhor compará-lo senão com esses restaurantes-ônibus, pródigos de comestíveis, que quase nada têm de sedução senão a aparência, que servem aos consumidores um pouco ao acaso do garfo.

Mais superficial do que profundo, o importante é sacrificado ao fútil, o principal ao acessório, o lado dogmático ao lado episódico; as lacunas aí são abundantes, aliás tanto quanto as coisas inúteis, e a fim de que nada lhe falte, está cheio de contradições, afirmando aqui o que nega adiante, se bem que se seria tentado em crer que, diferentemente nisso do célebre Pico de Mirandola, - capaz de dissertar de omnire scibili, - O Sr. Louis Figuier empreendeu ensinar aos outros o que ele mesmo não sabia.

(...)" (Sr. Escande, redator da "Mode Nouvelle".)




Pretendo com a reunião desse material estimular a leitura dos artigos da Revista Espírita, dentro de um contexto histórico.

Como podemos ver, uma crítica séria, com argumentos e contra-argumentos, dos quais poderemos, com uma observação atenta, apreender muitas instruções a respeito da Doutrina Espírita, reforçando assim nosso aprendizado sobre os princípios do Espiritismo.

Quero destacar, pelo que observei em outros locais, a importância do trabalho do Sr. Figuier em popularizar a ciência e a história.

É interessante observar também o conhecimento de Kardec ao tratar da antigüidade e universalidade da Doutrina.

Há mais uma observação curiosa.

Apenas no volume quatro o Sr. Figuier faz uma rápida observação sobre "O Livro dos Espíritos".

Ao que Kardec responde, com bom humor:

"O Sr. Figuier termina seu Tratado do Maravilhoso por uma curta notícia sobre 'O Livro dos Espíritos'. Ele o julga naturalmente sob o seu ponto de vista: "A filosofia, disse ele, nele está fora de moda, e a moral dormente."

Teria, sem dúvida gostado de uma moral galhofeira e despertante;mas que fazer dela? É uma moral para uso da alma; de resto sempre terá tido uma vantagem: a de fazê-lo dormir; é para ele uma receita em caso de insônia."

Abraços e boa leitura!

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