terça-feira, 3 de março de 2009

"O Espiritismo sério"...

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Allan Kardec por vezes utilizava a expressão "o Espiritismo sério"...

Mas o Espiritismo em si mesmo "é sério"... Então qual a necessidade de Allan Kardec adicionar esse adjetivo "sério" ao Espiritismo?

Havia algum "Espiritismo não sério"?

Se o Espiritismo é um só, e em si mesmo é sério, por "Espiritismo sério", ou "Espiritismo não sério", Kardec queria se referir a "movimentos", compostos por pessoas?

O que temos hoje?

Temos pessoas que tratam o Espiritismo com seriedade ?

Temos pessoas, como disse Kardec, "que não consideram a coisa com a mesma gravidade" ?

Quanto ao que pensam os Espíritos, estes se preocupam ou não com a seriedade, ou com a leviandade com que tratamos tais questões?

Se não se preocupam com essa seriedade na abordagem da questão espiritual, de suas consequências, por que então temos mensagens como por exemplo as de Erasto, a respeito de "os Falsos Profetas da Erraticidade", ou a respeito de espíritos enganadores, ou a respeito da prudência, da reserva que se deve ter com certas publicações?

Isso demonstra ou não um zelo, ou uma seriedade, no tratamento dispensado ao desenvolvimento, divulgação, da Doutrina dos Espíritos?

E como ter esse zelo, sem coerência?

E como ter coerência ignorando, ou adaptando ao sabor das paixões, noções elementares da Doutrina Espírita?

Eu sou Espírita.

Devo dizer que, dentro de meus limites, "procuro tratar a causa com gravidade, com seriedade, com zelo"...

Ainda sobre "Espiritismo sério"...

Além de considerar a existência do que chamava de "Espiritismo sério", podemos ver também Allan Kardec se referindo a "Grupos sérios":

"(...)

Compreende-se muito bem que os médiuns profissionais são raríssimos, pelo menos na França; que são desconhecidos na maioria dos centros espíritas do país, onde a reputação dos mercenários bastaria para os excluir de todos os grupos sérios, e onde, para eles, o ofício não seria lucrativo, em razão do descrédito de que seriam objeto e da concorrência de médiuns desinteressados que se encontram por toda parte.

Para suprir, seja a faculdade que lhe falta, seja a insuficiência da clientela, há supostos médiuns que usam o jogo de cartas, a clara de ovo, a borra de café, etc., a fim de satisfazer todos os gostos, esperando por esses meios, na falta dos Espíritos, atrair aqueles que ainda crêem nessas tolices.

Se eles não fizessem mal senão a si mesmos, o mal seria insignificante; contudo, há pessoas que, sem ir mais longe, confundem o abuso com a realidade e depois os mal intencionados delas se aproveitam para dizer que nisso consiste o Espiritismo.

Vede, pois, senhor, que a exploração da mediunidade conduzindo aos abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de a condenar e de a repudiar como auxiliar.

(...)"


O que é o Espiritismo
Capítulo I - Pequena Conferência Espírita
Médiuns Interesseiros


Ainda sobre "Espiritismo sério"...

Podemos ler também, na obra "O que é o Espiritismo", de 1859:

"(...)

As reuniões frívolas têm um grave inconveniente para os iniciantes que as assistem, quando lhes dão uma idéia falsa do caráter do Espiritismo.

(...)"


- Não apenas certas "reuniões" podem dar uma idéia falsa do Espiritismo, como "grupos", "centros", "comunidades", "obras", "palestras", etc...

"(...)

Aqueles que não assistiram senão a reuniões desse gênero, não saberiam levar a sério uma coisa que vêem tratada com leviandade por aqueles mesmos que dela se dizem seus adeptos. Um estudo prévio os ensinará a julgar a importância daquilo que vêem e a separar o bom do mau.

(...)"


- Poderíamos considerar: "aqueles que não lêem senão obras desse gênero, não saberiam levar a sério uma coisa que vêem tratada com leviandade por aqueles mesmos que dela se dizem seus adeptos"?

"(...)

O mesmo raciocínio se aplica àqueles que julgam o Espiritismo por certas obras excêntricas que não podem dele dar senão uma idéia incompleta e ridícula.

(...)"


- Há obras que podem dar uma idéia incompleta, truncada, e ridícula do que seja a Doutrina Espírita?

"(...)

O Espiritismo sério não é mais responsável por aqueles que o compreendem mal ou o praticam insensatamente, do que a poesia não é responsável por aqueles que fazem maus versos.

(...)"


- Há aqueles que compreendem mal ou praticam insensatamente o Espiritismo?

"(...)

É deplorável, diz-se, que tais obras existam, porque elas comprometem a verdadeira ciência.

Sem dúvida, seria preferível que ele não tivesse senão obras boas; mas o maior erro cabe àqueles que não se dão ao trabalho de tudo estudar. Todas as artes, todas as ciências, aliás, estão no mesmo caso; não há sobre as coisas mais sérias tratados absurdos e cheios de erros? Por que o Espiritismo seria privilegiado a esse respeito, sobretudo em seu início? Se aqueles que o criticam não o julgassem pelas aparências, saberiam o que ele admite e o que ele rejeita, e não o acusariam daquilo que ele [o Espiritismo] repudia em nome da razão e da experiência.

(...)"


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O que me causa certa admiração é observar que estas informações estão nas obras mais elementares, escritas sim há 150 anos, porém atuais e com alcance futuro.

O livro "O que é o Espiritismo" é de 1859, dois anos após o lançamento de "O Livro dos Espíritos", de 1857. "O Livro dos Médiuns", "em continuação de O Livro dos Espíritos", é de 1861...

Mas quem lê Kardec?

Quantos são os que repetem que Kardec está ultrapassado, que ler Kardec é "retrógrado", "chato", "dormente", "fora de moda", etc?

Quantos são os que, mesmo em cursos, substituem essas obras por apostilas, ou por outros livros, que podem vir a comprometer o estudo do Espiritismo, impedindo que "iniciantes" tenham conhecimento dessas "noções elementares" de Espiritismo?


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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Kardec demonstrando um exame crítico "ao vivo"

 



http://www.youtube.com/watch?v=HoqhMXuOQB0

O vídeo é uma adaptação do artigo de Allan Kardec "Procedimentos para afastar os maus Espíritos", publicado na Revista Espírita de setembro de 1859. (Estudo / Sávio).
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"Um senhor, que eu não conhecia, veio um dia me ver, e me disse que era médium; que recebia comunicações de um Espírito muito elevado que o encarregara de vir junto a mim fazer-me uma revelação a respeito de uma trama que, segundo ele, se urdia contra mim, da parte de inimigos secretos que ele designou.

"Quereis, acrescentou, que eu escreva em vossa presença?"

"De bom grado, respondi; mas devo dizer-vos, desde logo, que esses inimigos devem ser menos temidos do que credes. Eu sei que os tenho; quem não os tem? E os mais obstinados, freqüentemente, são aqueles a quem se fez mais bem. Tenho para mim a consciência de não ter feito, voluntariamente, mal a ninguém; os que me fizerem não poderão dizer-o mesmo, e Deus será o juiz entre nós. Vejamos, todavia, o aviso que vosso Espírito quer me dar."

Sobre isso esse senhor escreveu o que se segue:

"Eu ordenei a C... (o nome do senhor) que é o facho da luz dos bons Espíritos, e que recebeu deles a missão de difundi-la entre seus irmãos, de ir à casa de Allan Kardec, que deverá crer cegamente no que lhe direi, porque estou em nome dos eleitos nomeados por Deus para velar pela salvação dos homens, e que venho anunciar a verdade....."

"Eis o bastante, disse-lhe, não tomeis o trabalho de prosseguir. Essa exortação basta para me mostrar com qual Espírito estais relacionado; não acrescentarei senão uma palavra, é que para um Espírito que se quer fazer de espertalhão, ele é bem inábil."

Esse senhor pareceu bastante escandalizado com o pouco caso que fiz de seu Espírito, que ele tivera a bondade de tomar por algum arcanjo, ou pelo menos por algum santo da primeira ordem, vindo propositadamente para ele.

"Mas, disse-lhe, esse Espírito mostra suas intenções por algumas palavras que acaba de escrever, e é preciso convir que ele sabe bem pouco esconder seu jogo.

De início, vos ordena: portanto, ele quer vos ter sob sua dependência, o que é próprio de Espíritos obsessores;

ele vos chama o facho da luz dos bons Espíritos, linguagem passavelmente enfática e ambígua, bem longe da simplicidade que caracteriza a dos bons Espíritos,

e por aí lisonjeia o vosso orgulho, e exalta a vossa importância, o que basta para torná-lo suspeito.

Ele se coloca, sem cerimônia, em nome dos eleitos nomeados por Deus: jactância indigna de um Espírito verdadeiramente superior.

Enfim, ele me disse que devo crer-lhe cegamente; isso coroa a obra.

Está bem aí o estilo desses Espíritos mentirosos que querem que sejam acreditados sob palavra, porque sabem que têm tudo a perder em um exame sério. Com um pouco mais de perspicácia, ele saberia que não me paga com belas palavras, e que se dirigiria mal prescrevendo-lhe uma confiança cega.

De onde concluo que sois o joguete de um Espírito que vos mistifica e abusa de vossa boa-fé.

Eu vos convido a prestar séria atenção nisso, porque se vós não vos guardais, ele poderá vos pregar uma peça a seu modo."

Não sei se esse senhor aproveitou a advertência, porque jamais o revi, assim como o seu Espírito.

Eu não terminaria se contasse todas as comunicações desse gênero que me submetem, algumas vezes seriamente, como emanando dos maiores santos, da Virgem Maria, e mesmo do Cristo, e era verdadeiramente curioso ver as torpezas que se debitavam a esses nomes venerados; é preciso ser cego para se equivocar com sua origem, então que, freqüentemente, uma única palavra equívoca, um único pensamento contraditório, bastam para fazer descobrir a fraude a quem quer que se dê ao trabalho de refletir.


Como exemplos notáveis de apoio, convidamos os nossos leitores a terem a bondade de se reportarem aos artigos publicados nos números da Revista Espírita dos meses de julho e outubro de 1858.

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Procedimentos para afastar os maus Espíritos
Revista Espírita, setembro de 1859

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1859/09a-procedimentos.html

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