Allan Kardec por vezes utilizava a expressão "o Espiritismo sério"...
Mas o Espiritismo em si mesmo "é sério"... Então qual a necessidade de Allan Kardec adicionar esse adjetivo "sério" ao Espiritismo?
Havia algum "Espiritismo não sério"?
Se o Espiritismo é um só, e em si mesmo é sério, por "Espiritismo sério", ou "Espiritismo não sério", Kardec queria se referir a "movimentos", compostos por pessoas?
O que temos hoje?
Temos pessoas que tratam o Espiritismo com seriedade ?
Temos pessoas, como disse Kardec, "que não consideram a coisa com a mesma gravidade" ?
Quanto ao que pensam os Espíritos, estes se preocupam ou não com a seriedade, ou com a leviandade com que tratamos tais questões?
Se não se preocupam com essa seriedade na abordagem da questão espiritual, de suas consequências, por que então temos mensagens como por exemplo as de Erasto, a respeito de "os Falsos Profetas da Erraticidade", ou a respeito de espíritos enganadores, ou a respeito da prudência, da reserva que se deve ter com certas publicações?
Isso demonstra ou não um zelo, ou uma seriedade, no tratamento dispensado ao desenvolvimento, divulgação, da Doutrina dos Espíritos?
E como ter esse zelo, sem coerência?
E como ter coerência ignorando, ou adaptando ao sabor das paixões, noções elementares da Doutrina Espírita?
Eu sou Espírita.
Devo dizer que, dentro de meus limites, "procuro tratar a causa com gravidade, com seriedade, com zelo"...
Ainda sobre "Espiritismo sério"...
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Compreende-se muito bem que os médiuns profissionais são raríssimos, pelo menos na França; que são desconhecidos na maioria dos centros espíritas do país, onde a reputação dos mercenários bastaria para os excluir de todos os grupos sérios, e onde, para eles, o ofício não seria lucrativo, em razão do descrédito de que seriam objeto e da concorrência de médiuns desinteressados que se encontram por toda parte.
Para suprir, seja a faculdade que lhe falta, seja a insuficiência da clientela, há supostos médiuns que usam o jogo de cartas, a clara de ovo, a borra de café, etc., a fim de satisfazer todos os gostos, esperando por esses meios, na falta dos Espíritos, atrair aqueles que ainda crêem nessas tolices.
Se eles não fizessem mal senão a si mesmos, o mal seria insignificante; contudo, há pessoas que, sem ir mais longe, confundem o abuso com a realidade e depois os mal intencionados delas se aproveitam para dizer que nisso consiste o Espiritismo.
Vede, pois, senhor, que a exploração da mediunidade conduzindo aos abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de a condenar e de a repudiar como auxiliar.
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O que é o Espiritismo
Capítulo I - Pequena Conferência Espírita
Médiuns Interesseiros
Ainda sobre "Espiritismo sério"...
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As reuniões frívolas têm um grave inconveniente para os iniciantes que as assistem, quando lhes dão uma idéia falsa do caráter do Espiritismo.
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- Não apenas certas "reuniões" podem dar uma idéia falsa do Espiritismo, como "grupos", "centros", "comunidades", "obras", "palestras", etc...
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Aqueles que não assistiram senão a reuniões desse gênero, não saberiam levar a sério uma coisa que vêem tratada com leviandade por aqueles mesmos que dela se dizem seus adeptos. Um estudo prévio os ensinará a julgar a importância daquilo que vêem e a separar o bom do mau.
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- Poderíamos considerar: "aqueles que não lêem senão obras desse gênero, não saberiam levar a sério uma coisa que vêem tratada com leviandade por aqueles mesmos que dela se dizem seus adeptos"?
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O mesmo raciocínio se aplica àqueles que julgam o Espiritismo por certas obras excêntricas que não podem dele dar senão uma idéia incompleta e ridícula.
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- Há obras que podem dar uma idéia incompleta, truncada, e ridícula do que seja a Doutrina Espírita?
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O Espiritismo sério não é mais responsável por aqueles que o compreendem mal ou o praticam insensatamente, do que a poesia não é responsável por aqueles que fazem maus versos.
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- Há aqueles que compreendem mal ou praticam insensatamente o Espiritismo?
É deplorável, diz-se, que tais obras existam, porque elas comprometem a verdadeira ciência.
Sem dúvida, seria preferível que ele não tivesse senão obras boas; mas o maior erro cabe àqueles que não se dão ao trabalho de tudo estudar. Todas as artes, todas as ciências, aliás, estão no mesmo caso; não há sobre as coisas mais sérias tratados absurdos e cheios de erros? Por que o Espiritismo seria privilegiado a esse respeito, sobretudo em seu início? Se aqueles que o criticam não o julgassem pelas aparências, saberiam o que ele admite e o que ele rejeita, e não o acusariam daquilo que ele [o Espiritismo] repudia em nome da razão e da experiência.
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O que me causa certa admiração é observar que estas informações estão nas obras mais elementares, escritas sim há 150 anos, porém atuais e com alcance futuro.
O livro "O que é o Espiritismo" é de 1859, dois anos após o lançamento de "O Livro dos Espíritos", de 1857. "O Livro dos Médiuns", "em continuação de O Livro dos Espíritos", é de 1861...
Mas quem lê Kardec?
Quantos são os que repetem que Kardec está ultrapassado, que ler Kardec é "retrógrado", "chato", "dormente", "fora de moda", etc?
Quantos são os que, mesmo em cursos, substituem essas obras por apostilas, ou por outros livros, que podem vir a comprometer o estudo do Espiritismo, impedindo que "iniciantes" tenham conhecimento dessas "noções elementares" de Espiritismo?
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