terça-feira, 3 de março de 2009

"O Espiritismo sério"...

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Allan Kardec por vezes utilizava a expressão "o Espiritismo sério"...

Mas o Espiritismo em si mesmo "é sério"... Então qual a necessidade de Allan Kardec adicionar esse adjetivo "sério" ao Espiritismo?

Havia algum "Espiritismo não sério"?

Se o Espiritismo é um só, e em si mesmo é sério, por "Espiritismo sério", ou "Espiritismo não sério", Kardec queria se referir a "movimentos", compostos por pessoas?

O que temos hoje?

Temos pessoas que tratam o Espiritismo com seriedade ?

Temos pessoas, como disse Kardec, "que não consideram a coisa com a mesma gravidade" ?

Quanto ao que pensam os Espíritos, estes se preocupam ou não com a seriedade, ou com a leviandade com que tratamos tais questões?

Se não se preocupam com essa seriedade na abordagem da questão espiritual, de suas consequências, por que então temos mensagens como por exemplo as de Erasto, a respeito de "os Falsos Profetas da Erraticidade", ou a respeito de espíritos enganadores, ou a respeito da prudência, da reserva que se deve ter com certas publicações?

Isso demonstra ou não um zelo, ou uma seriedade, no tratamento dispensado ao desenvolvimento, divulgação, da Doutrina dos Espíritos?

E como ter esse zelo, sem coerência?

E como ter coerência ignorando, ou adaptando ao sabor das paixões, noções elementares da Doutrina Espírita?

Eu sou Espírita.

Devo dizer que, dentro de meus limites, "procuro tratar a causa com gravidade, com seriedade, com zelo"...

Ainda sobre "Espiritismo sério"...

Além de considerar a existência do que chamava de "Espiritismo sério", podemos ver também Allan Kardec se referindo a "Grupos sérios":

"(...)

Compreende-se muito bem que os médiuns profissionais são raríssimos, pelo menos na França; que são desconhecidos na maioria dos centros espíritas do país, onde a reputação dos mercenários bastaria para os excluir de todos os grupos sérios, e onde, para eles, o ofício não seria lucrativo, em razão do descrédito de que seriam objeto e da concorrência de médiuns desinteressados que se encontram por toda parte.

Para suprir, seja a faculdade que lhe falta, seja a insuficiência da clientela, há supostos médiuns que usam o jogo de cartas, a clara de ovo, a borra de café, etc., a fim de satisfazer todos os gostos, esperando por esses meios, na falta dos Espíritos, atrair aqueles que ainda crêem nessas tolices.

Se eles não fizessem mal senão a si mesmos, o mal seria insignificante; contudo, há pessoas que, sem ir mais longe, confundem o abuso com a realidade e depois os mal intencionados delas se aproveitam para dizer que nisso consiste o Espiritismo.

Vede, pois, senhor, que a exploração da mediunidade conduzindo aos abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de a condenar e de a repudiar como auxiliar.

(...)"


O que é o Espiritismo
Capítulo I - Pequena Conferência Espírita
Médiuns Interesseiros


Ainda sobre "Espiritismo sério"...

Podemos ler também, na obra "O que é o Espiritismo", de 1859:

"(...)

As reuniões frívolas têm um grave inconveniente para os iniciantes que as assistem, quando lhes dão uma idéia falsa do caráter do Espiritismo.

(...)"


- Não apenas certas "reuniões" podem dar uma idéia falsa do Espiritismo, como "grupos", "centros", "comunidades", "obras", "palestras", etc...

"(...)

Aqueles que não assistiram senão a reuniões desse gênero, não saberiam levar a sério uma coisa que vêem tratada com leviandade por aqueles mesmos que dela se dizem seus adeptos. Um estudo prévio os ensinará a julgar a importância daquilo que vêem e a separar o bom do mau.

(...)"


- Poderíamos considerar: "aqueles que não lêem senão obras desse gênero, não saberiam levar a sério uma coisa que vêem tratada com leviandade por aqueles mesmos que dela se dizem seus adeptos"?

"(...)

O mesmo raciocínio se aplica àqueles que julgam o Espiritismo por certas obras excêntricas que não podem dele dar senão uma idéia incompleta e ridícula.

(...)"


- Há obras que podem dar uma idéia incompleta, truncada, e ridícula do que seja a Doutrina Espírita?

"(...)

O Espiritismo sério não é mais responsável por aqueles que o compreendem mal ou o praticam insensatamente, do que a poesia não é responsável por aqueles que fazem maus versos.

(...)"


- Há aqueles que compreendem mal ou praticam insensatamente o Espiritismo?

"(...)

É deplorável, diz-se, que tais obras existam, porque elas comprometem a verdadeira ciência.

Sem dúvida, seria preferível que ele não tivesse senão obras boas; mas o maior erro cabe àqueles que não se dão ao trabalho de tudo estudar. Todas as artes, todas as ciências, aliás, estão no mesmo caso; não há sobre as coisas mais sérias tratados absurdos e cheios de erros? Por que o Espiritismo seria privilegiado a esse respeito, sobretudo em seu início? Se aqueles que o criticam não o julgassem pelas aparências, saberiam o que ele admite e o que ele rejeita, e não o acusariam daquilo que ele [o Espiritismo] repudia em nome da razão e da experiência.

(...)"


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O que me causa certa admiração é observar que estas informações estão nas obras mais elementares, escritas sim há 150 anos, porém atuais e com alcance futuro.

O livro "O que é o Espiritismo" é de 1859, dois anos após o lançamento de "O Livro dos Espíritos", de 1857. "O Livro dos Médiuns", "em continuação de O Livro dos Espíritos", é de 1861...

Mas quem lê Kardec?

Quantos são os que repetem que Kardec está ultrapassado, que ler Kardec é "retrógrado", "chato", "dormente", "fora de moda", etc?

Quantos são os que, mesmo em cursos, substituem essas obras por apostilas, ou por outros livros, que podem vir a comprometer o estudo do Espiritismo, impedindo que "iniciantes" tenham conhecimento dessas "noções elementares" de Espiritismo?


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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Kardec demonstrando um exame crítico "ao vivo"

 



http://www.youtube.com/watch?v=HoqhMXuOQB0

O vídeo é uma adaptação do artigo de Allan Kardec "Procedimentos para afastar os maus Espíritos", publicado na Revista Espírita de setembro de 1859. (Estudo / Sávio).
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"Um senhor, que eu não conhecia, veio um dia me ver, e me disse que era médium; que recebia comunicações de um Espírito muito elevado que o encarregara de vir junto a mim fazer-me uma revelação a respeito de uma trama que, segundo ele, se urdia contra mim, da parte de inimigos secretos que ele designou.

"Quereis, acrescentou, que eu escreva em vossa presença?"

"De bom grado, respondi; mas devo dizer-vos, desde logo, que esses inimigos devem ser menos temidos do que credes. Eu sei que os tenho; quem não os tem? E os mais obstinados, freqüentemente, são aqueles a quem se fez mais bem. Tenho para mim a consciência de não ter feito, voluntariamente, mal a ninguém; os que me fizerem não poderão dizer-o mesmo, e Deus será o juiz entre nós. Vejamos, todavia, o aviso que vosso Espírito quer me dar."

Sobre isso esse senhor escreveu o que se segue:

"Eu ordenei a C... (o nome do senhor) que é o facho da luz dos bons Espíritos, e que recebeu deles a missão de difundi-la entre seus irmãos, de ir à casa de Allan Kardec, que deverá crer cegamente no que lhe direi, porque estou em nome dos eleitos nomeados por Deus para velar pela salvação dos homens, e que venho anunciar a verdade....."

"Eis o bastante, disse-lhe, não tomeis o trabalho de prosseguir. Essa exortação basta para me mostrar com qual Espírito estais relacionado; não acrescentarei senão uma palavra, é que para um Espírito que se quer fazer de espertalhão, ele é bem inábil."

Esse senhor pareceu bastante escandalizado com o pouco caso que fiz de seu Espírito, que ele tivera a bondade de tomar por algum arcanjo, ou pelo menos por algum santo da primeira ordem, vindo propositadamente para ele.

"Mas, disse-lhe, esse Espírito mostra suas intenções por algumas palavras que acaba de escrever, e é preciso convir que ele sabe bem pouco esconder seu jogo.

De início, vos ordena: portanto, ele quer vos ter sob sua dependência, o que é próprio de Espíritos obsessores;

ele vos chama o facho da luz dos bons Espíritos, linguagem passavelmente enfática e ambígua, bem longe da simplicidade que caracteriza a dos bons Espíritos,

e por aí lisonjeia o vosso orgulho, e exalta a vossa importância, o que basta para torná-lo suspeito.

Ele se coloca, sem cerimônia, em nome dos eleitos nomeados por Deus: jactância indigna de um Espírito verdadeiramente superior.

Enfim, ele me disse que devo crer-lhe cegamente; isso coroa a obra.

Está bem aí o estilo desses Espíritos mentirosos que querem que sejam acreditados sob palavra, porque sabem que têm tudo a perder em um exame sério. Com um pouco mais de perspicácia, ele saberia que não me paga com belas palavras, e que se dirigiria mal prescrevendo-lhe uma confiança cega.

De onde concluo que sois o joguete de um Espírito que vos mistifica e abusa de vossa boa-fé.

Eu vos convido a prestar séria atenção nisso, porque se vós não vos guardais, ele poderá vos pregar uma peça a seu modo."

Não sei se esse senhor aproveitou a advertência, porque jamais o revi, assim como o seu Espírito.

Eu não terminaria se contasse todas as comunicações desse gênero que me submetem, algumas vezes seriamente, como emanando dos maiores santos, da Virgem Maria, e mesmo do Cristo, e era verdadeiramente curioso ver as torpezas que se debitavam a esses nomes venerados; é preciso ser cego para se equivocar com sua origem, então que, freqüentemente, uma única palavra equívoca, um único pensamento contraditório, bastam para fazer descobrir a fraude a quem quer que se dê ao trabalho de refletir.


Como exemplos notáveis de apoio, convidamos os nossos leitores a terem a bondade de se reportarem aos artigos publicados nos números da Revista Espírita dos meses de julho e outubro de 1858.

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Procedimentos para afastar os maus Espíritos
Revista Espírita, setembro de 1859

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1859/09a-procedimentos.html

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sexta-feira, 6 de junho de 2008

A "vida em Marte" e o Espiritismo

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Um dos espírito que deram comunicações falando detalhes sobre alguns planetas foi Georges.

Em 1860, este espírito publicou várias mensagens.

No conjunto de comunicações em que Georges fala de Marte e de Júpiter, há um texto sobre o "Despertar do espírito", que de acordo com o que entendi, causou certo desconforto entre os estudantes que consideravam Georges um espírito elevado, desconforto causado pelo fato do texto parecer contraditório, sem concordância com ensinos anteriores.

No mês seguinte, ainda em 1860, Kardec escreveu um artigo "Relações Afetuosas dos Espíritos", para refutar as observações de Georges, e podemos ler, de Kardec:

"Geralmente, se tem admirado as belas comunicações do Espírito que assina Georges; mas, em razão mesmo da superioridade da qual este Espírito deu provas, várias pessoas viram com surpresa o que ele disse na sua comunicação do Despertar do Espírito, a propósito das relações de além-túmulo."

Após fazer mais outras observações, refutando alguns pontos da comunicação daquele espírito, Kardec comenta:

"Encontramos aí, pois, uma prova a mais de que não é preciso nada aceitar sem tê-lo submetido ao controle da razão, e aqui a razão eos fatos nos dizem que essa teoria não poderia ser absoluta."

Após essa refutação, Kardec solicitou explicações a Georges, e o espírito se corrigiu, disse que se referia a uma determinada ocasião específica, e que pensava que não estava generalizando. (Lembrou-me outro caso parecido...)

Voltando às comunicações desse mesmo espírito Georges, sobre descrições da vida material em outros planetas, Kardec afirma:

"Não temos sobre os outros mundos senão notícias HIPOTÉTICAS"

Em 1862, Kardec "chamou Georges pra conversar" novamente, pedindo explicações sobre suas mensagens a respeito de planetas, como Vênus, e o questionou sobre alguns pontos.

Ao final desta conversa, Kardec anota:

"Essa descrição de Vênus, sem dúvida,

NÃO TEM nenhum dos caracteres de uma autenticidade absoluta,

e também não a damos senão a título condicional."


Nos 7 anos seguintes da Revista Espírita, com 12 edições por ano, não se vê mais falar no assunto.

Em "O Livro dos Médiuns" podemos ler:

296. Perguntas sobre os outros mundos

32ª Que confiança se pode depositar nas descrições que os Espíritos fazem dos diferentes mundos?

"Depende do grau de adiantamento real dos Espíritos que dão essas descrições, pois bem deveis compreender que Espíritos vulgares são tão incapazes de vos informarem a esse respeito, quanto o é, entre vós, um ignorante, de descrever todos os países da Terra.

Formulais muitas vezes, sobre esses mundos, questões científicas que tais Espíritos não podem resolver.

Se eles estiverem de boa-fé falarão disso de acordo com suas idéias pessoais;

se forem Espíritos levianos divertir-se-ão em dar-vos descrições estranhas e fantásticas, tanto mais facilmente quanto esses Espíritos, que na erraticidade não são menos providos de imaginação do que na Terra, tiram dessa faculdade a narração de muitas coisas que nada tem de real.

Entretanto, não julgueis absolutamente impossível obterdes, sobre os outros mundos, alguns esclarecimentos. Os bons Espíritos se comprazem mesmo em descrever-vos os que eles habitam, como ensino tendente a vos melhorar, induzindo-vos a seguir o caminho que vos conduzirá a esses mundos. É um meio de vos fixarem as idéias sobre o futuro e não vos deixarem na incerteza."

a) Como se pode verificar a exatidão dessas descrições?

"A MELHOR VERIFICAÇÃO RESIDE NA CONCORDÂNCIA que haja entre elas.

Porém, lembrai-vos de que semelhantes descrições têm por fim o vosso melhoramento moral e que, por conseguinte, é sobre o estado moral dos habitantes dos Outros mundos que podeis ser mais bem informados e não sobre o estado físico ou geológico de tais esferas.

Com os vossos conhecimentos atuais, não poderíeis mesmo compreendê-lo; semelhante estudo de nada serviria para o vosso progresso na Terra e toda a possibilidade tereis de fazê-lo, quando nelas estiverdes."

NOTA:

As questões sobre a constituição física e os elementos astronômicos dos mundos se compreendem no campo das pesquisas científicas, para cuja efetivação não devem os Espíritos poupar-nos os trabalhos que demandam.

Se não fosse assim, muito cômodo se tornaria para um astrônomo pedir aos Espíritos que lhe fizessem os cálculos, o que, no entanto, depois, sem dúvida, esconderia.

Se os Espíritos pudessem, por meio da revelação, evitar o trabalho de uma descoberta, é provável que o fizessem para um sábio que, por bastante modesto, não hesitaria em proclamar abertamente o meio pelo qual o alcançara e não para os orgulhosos que os renegam e a cujo amor-próprio, ao contrário, eles muitas vezes poupam decepções.


O Livro dos Médiuns
Capítulo XXVI
Das Perguntas que se Podem Fazer aos Espíritos
Perguntas sobre os outros mundos


Tentando concluir, vejamos mais três observações (para fixar): :)

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"O Espiritismo é simplesmente uma moral e que não deverá sair, nem muito, nem pouco, dos limites da filosofia, se não quiser cair no domínio da curiosidade."

(São Luis, O Livro dos Médiuns)

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1. Os Espíritos não se acham todos esclarecidos igualmente sobre estes assuntos.

2. Há Espíritos de inteligência ainda limitada, que não compreendem as coisa abstratas. São como as crianças entre vós.

3. Também há Espíritos pseudo-sábios, que fazem alarde de palavras, para se imporem, ainda como sucede entre vós.

4. Depois, os próprios Espíritos esclarecidos podem exprimir-se em termos diferentes, cujo valor, entretanto, é, substancialmente, o mesmo, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem se mostra impotente para traduzir com clareza.

5. Recorrem então a figuras, a comparações, que tomais como realidade.


(Resposta 143, O Livro dos Espíritos)

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"Lembrai-vos de que há uma só coisa em que nunca sereis enganados,

é sobre o que toca ao aprimoramento moral dos homens;

aí está a verdadeira missão dos bons Espíritos; mas não credes que esteja em seu poder vos descobrir o que é segredo de Deus; não credes, sobretudo, que estejam encarregados de aplainar o rude caminho da ciência;

a ciência não é adquirida senão ao preço do trabalho e de pesquisas assíduas."


(Allan Kardec)

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Espero que estas informações auxiliem.

Abraços!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

David Friedrich Strauss, autor de "Vida de Jesus", 1835


David Friedrich Strauss (Ludwigsburg, Alemanha, 27 de Janeiro de 1808 - 8 de Fevereiro de 1874) foi um teólogo e exegeta alemão.

Em Setembro de 1825 iniciou os seus estudos de teologia no seminário protestante de Tübingen, sendo depois professor no seminário de Maulbroon.

Discípulo de Hegel, tornou-se muito conhecido após a publicação, em 1835, da obra "Vida de Jesus", que causou escândalo nos meios religiosos da Alemanha.

Para Strauss, o sucesso do cristianismo explicava-se por um "mito de Jesus", que teria sido forjado pela mentalidade judaica dos tempos apostólicos, e que não poderia ser sustentada pela ciência moderna - perspectiva depois adotada por Ernest Renan na sua "Vida de Jesus".

Hegel, com a sua "despersonalização" da religião, havia introduzido a chamada corrente do racionalismo hegeliano no seio do protestantismo alemão, que afirmava que o cristianismo apenas podia ser salvo através do esvaziar do seu conteúdo sobrenatural.

Os hegelianos pretendiam fundar a religião cristã sobre uma base exclusivamente racional.

Strauss, discípulo de Hegel, mas reagindo aos racionalistas hegelianos, vinha argumentar que o cristianismo apenas se podia defender através da veracidade dos testemunhos evangélicos.

Nos Estados Unidos da América, a tese de Strauss encontrou eco quase imediato em Theodore Parker (1810–1860) que, em 1841, fez um sermão intitulado "A Discourse of the Transient and Permanent in Christianity", um espécie de manifesto do chamado "transcendentalismo".

Na Alemanha, porém, Strauss viu-se desautorizado logo em 1845, com a obra "Paulus der Apostel Jesu Christi" de Ferdinand Christian Baur, do fundador da chamada "tendência" ou escola de exegese de Tübingen.

A tese e a obra de Strauss dominou o movimento crítico da religião na Europa, sobretudo entre agnósticos e ateus, durante a segunda metade do século XIX, podendo ser seguido o seu percurso de influência em três direcções principais:

- por intermédio de Feuerbach, tocando Karl Marx;
- por intermédio de Renan, no materialismo francês do século XIX;
- e, em Haeckel, com difusão nas correntes cientistas.

(texto e foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Friedrich_Strauss)
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Encontrei algumas referências em que pude observar que esta obra foi traduzida para o francês por volta de 1839, por Émille Littré, e que teve várias edições publicadas durante as décadas seguintes.

"Vie de Jésus / ou Examen Critique de son histoire", par le docteur David Frédéric Strauss, traduite de l'allemand sur la derniére édition, par Émile Littré, Paris.

Imagino que possa existir alguma relação com o livro "A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo", de Allan Kardec. Alguém possui maiores informações sobre essa obra, ou alguma possível relação com o livro "A Gênese"?

Abraços!

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TALISMÃS ou AMULETOS



talismã

do Ár. tilasm, "figura mágica" < Gr. télesma, rito religioso

http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx
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O objetivo deste material é a reunião de textos encontrados nas obras da base da Doutrina Espírita, incluindo a Revista Espírita, abordando "talismãs" ou "amuletos".

Poderá servir de referência e consulta para pesquisa por palavra-chave.

Examinando o conjunto dos "recortes" poderemos observar instruções como a valorização da importância do pensamento e do desenvolvimento moral, entre outros.

Boa leitura!
__________

O Livro dos Espíritos
Parte Segunda - Capítulo 9
Intervenção dos espíritos no mundo corporal
Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros


"(...)

553. Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas com que algumas pessoas pretendem dispor da cooperação dos Espíritos?

- É o efeito de torná-las ridículas se forem pessoas de boa-fé. Caso contrário, são patifes que merecem castigo. Todas as fórmulas são enganosas;

não há nenhuma palavra sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos,

porque eles são atraídos somente pelo pensamento e não pelas coisas materiais.

553.a. Alguns Espíritos não têm, às vezes, ditado fórmulas cabalísticas?

- Sim, há Espíritos que indicam sinais, palavras esquisitas ou prescrevem alguns atos com a ajuda dos quais fazeis o que chamais de tramas secretas; mas ficais bem certos: são Espíritos que zombam e abusam de vossa credulidade.

554. Aquele que, errado ou certo, tem confiança no que chama virtude de um talismã, não pode por essa própria confiança atrair um Espírito, já que é o pensamento que age? O talismã não será apenas um sinal que ajuda a dirigir o pensamento?

- É verdade; mas a natureza do Espírito atraído depende da pureza da intenção e da elevação dos sentimentos; portanto, devemos crer que aquele que é tão simples para acreditar na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material do que moral. Além do mais, em todos os casos, isso indica uma inferioridade e fraqueza de idéias que o expõem aos Espíritos imperfeitos e zombeteiros.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/le/le-2-09.html

(1857)
__________

Os Talismãs - Medalha cabalística
Revista Espírita, setembro de 1858


"(...)

Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não por objetos materiais que não têm nenhum poder sobre eles.

Os Espíritos superiores, em todos os tempos, condenaram o emprego de sinais e de formas cabalísticas,

e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer, ou que pretenda dar talismãs que aparentem a magia, revela, com isso, sua inferioridade, esteja agindo de boa fé ou por ignorância, em conseqüência de antigos preconceitos terrestres dos quais estejam imbuídos, seja porque queira conscientemente divertir-se com a credulidade, como Espírito zombeteiro.

Os sinais cabalísticos, quando não são pura fantasia, são símbolos que lembram as crenças supersticiosas quanto à virtude de certas coisas, como os números, os planetas, e sua concordância com os metais, crenças nascidas nos tempos da ignorância, e que repousam sobre erros manifestos, dos quais a ciência fez justiça mostrando o que eram os pretensos sete planetas, sete metais, etc.

A forma mística e ininteligível desses emblemas tinha por objetivo impor ao vulgo ver o maravilhoso naquilo que não compreendia.

Quem estudou a natureza dos Espíritos, não pode admitir racionalmente, sobre eles, a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; isso seria renovar as práticas da caldeira dos feiticeiros, de gato preto, de galinha preta e outros feitiços.

(...)

Um Espírito pode dizer "Traçai tal sinal, e a esse sinal reconhecerei que chamais e virei"; mas nesse caso o sinal traçado não é senão a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de um modo material;

ora, os Espíritos, qualquer que seja sua natureza, não têm necessidade de semelhantes meios para se comunicarem;

os Espíritos superiores não os empregam nunca;

os Espíritos inferiores podem fazê-lo tendo em vista fascinar a imaginação de pessoas crédulas, que querem ter sob sua dependência.

Regra geral: todo Espírito que liga mais importância à forma do que ao fundo é inferior, e não merece nenhuma confiança, ainda mesmo se, de tempo em tempo, disser algumas coisas boas; porque essas boas coisas podem ser um meio de sedução.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1858/09f-os-talismas.html

(1858)
__________

O Livro dos Médiuns
CAPÍTULO XXV
Das Evocações
Questões sobre as evocações


"(...)

17ª Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme pretendem alguns?

"Esta pergunta era escusada [dispensável, supérflua], porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos.

Fica bem certo de que nunca um bom Espírito aconselhará semelhantes absurdidades.

A virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das pessoas crédulas."

18ª Que se deve pensar dos Espíritos que marcam encontros em lugares lúgubres e a horas indevidas?

"Esses Espíritos se divertem à custa dos que lhes dão ouvidos.

E sempre inútil e não raro perigoso ceder a tais sugestões:

inútil, porque nada absolutamente se ganha em ser mistificado;

perigoso, não pelo mal que possam fazer os Espíritos, mas pela influência que isso pode ter sobre cérebros fracos."

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/lm/lm-29.html

(1861)

* escusado (adjetivo),
- que se pode escusar;
- dispensável;
- supérfluo.

__________

Revista Espírita, dezembro de 1862

"(...)

Certas pessoas preferem, sem dúvida, uma receita mais fácil para afastar os maus Espíritos: algumas palavras a dizer ou alguns sinais afazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que se corrigir de seus defeitos.

Com isso não estamos descontentes, mas não conhecemos nenhum outro procedimento mais eficaz para vencer um inimigo do que ser mais forte do que ele.

Quando se está doente, é preciso se resignar a tomar um remédio, por amargo que ele seja; mas também, quando se teve a coragem de beber, como se sente bem, e quanto se é forte!

É preciso, pois, se persuadir de que não há, para alcançar esse objetivo,

nem palavras sacramentais,

nem fórmulas,

nem talismãs,

nem quaisquer sinais materiais.

Os maus Espíritos disso se riem e se alegram freqüentemente em indicarem que sempre têm o cuidado de se dizer infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles que querem enganar, porque então estes confiantes na virtude do procedimento, se entregam sem medo.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1862/12a-estudo-sobre.html

(1862)
__________

Causas da obsessão e meios de combate - II
Revista Espírita, janeiro de 1863


"(...)

A presunção de julgar-se invulnerável pelos maus Espíritos muitas vezes tem sido punida de modo crudelíssimo, porque jamais são impunemente desafiados pelo orgulho. O orgulho é a parte que lhes dá mais fácil acesso, pois ninguém oferece menos resistência do que o orgulhoso, quando tomado pelo seu lado fraco.

Antes de nos dirigirmos aos Espíritos, convém, pois, encouraçarmos-nos contra o assalto dos maus, assim como se marchássemos em terreno onde tememos picadas de cobras.

Isto se consegue, inicialmente, pelo estudo prévio, que indica a rota e as precauções a tomar.

A seguir, a prece.

Mas é necessário bem nos compenetrarmos da verdade que

o único preservativo está em nós, na própria força, e nunca nas coisas exteriores.

Que nem há talismãs,

nem amuletos,

nem palavras sacramentais,

nem fórmulas sagradas ou profanas

que tenham a menor eficácia

se não tivermos em nós mesmos as qualidades necessárias.

Assim, essas qualidades é que devem ser adquiridas.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1863/63-01-causas-da-obsessao-2.html

(1863)
__________

O Céu e o Inferno
Capítulo X


"(...)

Nenhum objeto, medalha ou talismã tem a propriedade de atrair ou repelir Espíritos, pois a matéria ação alguma exerce sobre eles.

Nunca um bom Espírito aconselha tais absurdos.

A virtude dos talismãs só pode existir na imaginação de pessoas simplórias.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/ci/ci-1-10.html

(1865)
__________

O Livro dos Espíritos
Parte Segunda - Capítulo 9
Intervenção dos espíritos no mundo corporal
Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros


"(...)

553. Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas com que algumas pessoas pretendem dispor da cooperação dos Espíritos?

- É o efeito de torná-las ridículas se forem pessoas de boa-fé. Caso contrário, são patifes que merecem castigo. Todas as fórmulas são enganosas;

não há nenhuma palavra sacramental,

nenhum sinal cabalístico,

nenhum talismã

que tenha qualquer ação sobre os Espíritos,

porque eles são atraídos somente pelo pensamento e não pelas coisas materiais.

553.a. Alguns Espíritos não têm, às vezes, ditado fórmulas cabalísticas?

- Sim, há Espíritos que indicam sinais, palavras esquisitas ou prescrevem alguns atos com a ajuda dos quais fazeis o que chamais de tramas secretas;

mas ficais bem certos: são Espíritos que zombam e abusam de vossa credulidade.

554. Aquele que, errado ou certo, tem confiança no que chama virtude de um talismã, não pode por essa própria confiança atrair um Espírito, já que é o pensamento que age? O talismã não será apenas um sinal que ajuda a dirigir o pensamento?

- É verdade; mas a natureza do Espírito atraído depende da pureza da intenção e da elevação dos sentimentos; portanto, devemos crer que aquele que é tão simples para acreditar na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material do que moral.

Além do mais, em todos os casos, isso indica uma inferioridade e fraqueza de idéias que o expõem aos Espíritos imperfeitos e zombeteiros.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/le/le-2-09.html

(1857)
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Causas da obsessão e meios de combate - V
Revista Espírita, maio de 1863


"(...)

Os maus Espíritos só se dirigem aqueles a quem sabem poder dominar e não aqueles a quem a superioridade moral - não dizemos intelectual - encouraça contra os ataques.

Aqui se apresenta uma objeção muito natural, que convém prevenir. Talvez perguntem por que todos os que fazem o mal não são atingidos pela possessão? A isto respondemos que, fazendo o mal, sofre de outra maneira a perniciosa influência dos maus Espíritos, cujos conselhos escutam, pelo que serão punidos com tanto mais severidade quanto mais agirem com conhecimento de causa.

Não creiais na virtude de nenhum talismã, nenhum amuleto, nenhum signo, nenhuma palavra para afastar os maus Espíritos.

A pureza de coração e de intenção, o amor de Deus e do próximo, eis o melhor talismã, porque lhes tira todo império sobre as nossas almas.

(...)"

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1863/63-05-causas-da-obsessao-5.html

(1863)

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terça-feira, 13 de maio de 2008

"A História do Maravilhoso", Sr. Figuier, 1860


Guillaume Louis Figuier (1819-1894) foi um cientista e escritor francês. Tornou-se professor de química na "Ecole de Pharmacie" de Montpellier. Doutor em Medicina (1841), ensinou farmacologia, química e física (1844-1853) e ganhou seu PhD em (1850).

Figuier foi nomeado professor na "Ecole de Pharmacie" de Paris após deixar Montpellier. Publicou um anuário em 1859 - "L'Année Scientifique et industrielle" (ou "Exposé annuel des travaux") - em que compilou um inventário das descobertas científicas do ano.

Figuier também tentou criar um novo gênero, o "teatro científico", uma série de peças com o grande herói sendo inventores ou grandes cientistas, mas o público não seguiu esse movimento. Em 1855, Figuier substituiu Victor Meunier como editor da revista científica "La Presse". Seus artigos publicados semanalmente desde 1856 até à sua morte, foram coletados em um volume intitulado "Année scientifique et industrielle ou Exposé annuel des travaux". Este era um inventário exato das produções científicas do ano.

Ele é o autor de numerosas obras como:

- Les Grandes inventions anciennes et modernes (As Grandes invenções antigas e modernas) (1861);
- Le Savant du foyer (O Cientista da casa) (1862);
- La Terre avant le déluge (A Terra antes do dilúvio) (1863);
- La Terre et les mers (A Terra e os mares) (1864);
- Les Merveilles de la science (As Maravilhas da ciência) (1867-1891).

Foi também o criador e editor da "Ciência ilustrada", revista semanal para popularização da ciência em que participaram, entre outros autores, Julio Verne, Louis-Henri Boussenard e Camille Flammarion.

O Sr. Figuier publicou uma obra, em 4 volumes, "A História do Maravilhoso nos Tempos Modernos", de 1860.

Na Revista Espírita podemos encontrar a seguinte descrição:

"Sua obra compreende quatro volumes; os dois primeiros contêm de início uma exposição de princípios num prefácio e uma introdução, depois um relato de fatos perfeitamente conhecidos, que se lera, contudo, com interesse, por causadas pesquisas eruditas que ocorreram da parte do autor; é, nós o cremos, o relato mais completo que disso se publicou.

Assim, o primeiro volume é quase inteiramente consagrado à história de Urbain Grandier e dos religiosos de Loudun; vêm em seguida os convulsionários de Saint-Médard, a história dos profetas protestantes, a varinha adivinhatória, o magnetismo animal.

O quarto volume, que acaba de aparecer, trata especialmente das mesas girantes e dos Espíritos batedores." (Revista Espírita, setembro de 1860)

Allan Kardec se refere ao Sr. Figuier da seguinte maneira:

"pensamos encontrar nele um adversário verdadeiramente sério, trazendo enfim argumentos peremptórios que valessem o trabalho de uma refutação séria.

(...)

ele escreveu de maneira séria, e não se arrasta na lama de injúrias grosseiras e de personalismos, únicos argumentos dos críticos de baixa classe.

(...)

O Sr. Figuier é um sábio; ele escreve seriamente, e se apoia sobre o testemunho de alguns sábios; pode-se, pois, olhar-se o livro como a última palavra da ciência oficial sobre o Espiritismo, e essa palavra é: A negação de todo princípio inteligente fora da matéria.

(...)

Proibir um livro é provar que se o teme; nós convidamos a ler o do Sr. Figuier". (Allan Kardec)

No sítio da Wikipédia é possível encontrar uma extensa lista de suas obras:

http://fr.wikipedia.org/wiki/Louis_Figuier




Os 4 volumes da obra "A História do Maravilhoso" são:

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1860, Volume um
- Les Diables de Loudun.
- Les Convulsionnaires jansénistes.

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1860, Volume dois
- Les Prophètes Protestants.
- La Baguette Divinatoire.

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1860, Volume três
- O magnetismo animal.

História do Maravilhoso nos tempos modernos, 1861, Volume quatro
- As mesas girantes.
- Os médiuns e os espíritos.




Nas edições da Revista Espírita deste mesmo período encontramos as seguintes anotações:

História do Maravilhoso e do Sobrenatural, Revista Espírita, setembro de 1860

"É um pouco da palavra maravilhoso como da palavra alma; há um sentido elástico que pode dar lugar a interpretações diversas; por isso, acreditamos útil colocar alguns princípios gerais no artigo precedente, antes de abordar o exame da história que nos dá o Sr. Figuier.

Quando essa obra apareceu [o livro do Sr. Figuier], os adversários do Espiritismo bateram as mãos dizendo que, sem dúvida, teríamos pela frente um forte adversário; em seu caridoso pensamento, já nos viam mortos sem retorno; tristes efeitos da cegueira passional e irrefletida; porque, se se dessem ao trabalho de observar o que querem demolir, veriam que o Espiritismo será um dia, e isso mais cedo do que crêem, a salvaguarda da sociedade, e talvez mesmo lhe deverão a sua salvação, não dizemos no outro mundo, com o qual pouco se inquietam, mas neste! Não é levianamente que dizemos estas palavras; não chegou ainda o tempo de desenvolvê-las; mas muitos já nos compreendem.

Voltando ao Sr. Figuier, nós mesmos pensamos encontrar nele um adversário verdadeiramente sério, trazendo enfim argumentos peremptórios que valessem o trabalho de uma refutação séria.

Sua obra compreende quatro volumes; os dois primeiros contêm de início uma exposição de princípios num prefácio e uma introdução, depois um relato de fatos perfeitamente conhecidos, que se lera, contudo, com interesse, por causadas pesquisas eruditas que ocorreram da parte do autor; é, nós o cremos, o relato mais completo que disso se publicou.

Assim, o primeiro volume é quase inteiramente consagrado à história de Urbain Grandier e dos religiosos de Loudun; vêm em seguida os convulsionários de Saint-Médard, a história dos profetas protestantes, a varinha adivinhatória, o magnetismo animal.

O quarto volume, que acaba de aparecer, trata especialmente das mesas girantes e dos Espíritos batedores. Retornaremos mais tarde sobre este último volume, nos limitando, por hoje, a uma apreciação sumária do conjunto. (...)"

Dois meses depois:

História do Maravilhoso, Revista Espírita, dezembro de 1860

"Falando do Sr. Louis Figuier, em nosso primeiro artigo, procuramos, antes de tudo, qual fora o seu ponto de partida, e demonstramos, citando textualmente as suas palavras, que ele se apoia sobre a negação de todo poder fora da humanidade corpórea; as suas premissas devem fazer pressentir a sua conclusão.

O seu quarto volume, aquele que deveria tratar especialmente a questão das mesas girantes e dos médiuns, não aparecera ainda, e nós o esperamos para ver se daria, desses fenômenos, uma explicação mais satisfatória do que aquela do Sr. Jobert (de Lambale) [a teoria do músculo estalante].

Nós o lemos com cuidado, e o que dele ressalta mais claro para nós, é que o autor tratou de uma questão que ele não conhecia de modo nenhum; para isso não queremos outra prova senão as duas primeiras linhas assim concebidas: "Antes de abordar a história das mesas girantes e dos médiuns, cujas manifestações são todas modernas, etc."

Como o Sr. Figuier não sabe que Tertuliano fala em termos explícitos das mesas girantes e falantes;

que os Chineses conhecem esse fenômeno de tempos imemoriais;

que é praticada entre os Tártaros e os Siberianos;

que há médiuns entre os Tibetanos;

que os havia entre os Assírios, os Gregos e os Egípcios;

que todos os princípios fundamentais do Espiritismo se encontram nos filósofos sânscritos?

É falso, pois, avançar que essas manifestações são todas modernas; os modernos nada inventaram a esse respeito, e os Espíritas se apoiam sobre a antigüidade e a universalidade de sua doutrina, o que o Sr. Figuier deveria saber antes de ter a pretensão de fazer-lhe um tratado ex-professo.

Sua obra não teve menos as honras da imprensa, que se apressou em render homenagem a esse campeão das idéias materialistas. (...)"

Adicionando mais uma ponte a essa leitura, poderemos ver mais sobre o Sr. Jobert e a teoria do Músculo Estalante no seguinte artigo:

O músculo fanfarrão, refutação da teoria do senhor M. Jobert (de Lamballe) sobre as manifestações físicas dos Espíritos, Revista Espírita, junho de 1859

Um trecho: "Os adversários do Espiritismo acabam de fazer uma descoberta que deverá contrariar muito os "Espíritos batedores"; é para eles um golpe, do qual terão muita dificuldade para se levantarem. Que devem pensar, com efeito, da terrível estocada que acabam de lhes dar o senhor Schiff, e depois o senhor Jobert (de Lamballe), e depois o senhor Velpeau? (...)"

Voltando ao Sr. Figuier...

Penúria dos médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1861

"(...)

'A História do Maravilhoso nos Tempos Modernos', pelo Sr. Figuier, é interessante sob outro ponto de vista. Há também fatos longamente e minuciosamente narrados que aí se encontram, não se sabe bem porquê, mas que é bom conhecer.

Quanto aos fenômenos espíritas, propriamente ditos, ocupa a parte menos considerável de seus quatro volumes.

Ao passo que o Sr. de Mirville explica tudo pelo diabo, que outros explicam tudo pelos anjos, o Sr. Figuier, que não crê nem nos diabos, nem nos anjos, nem nos Espíritos bons ou maus, explica tudo, ou crê tudo explicar, pelo organismo humano.

O Sr. Figuier é um sábio; ele escreve seriamente, e se apoia sobre o testemunho de alguns sábios; pode-se, pois, olhar-se o livro como a última palavra da ciência oficial sobre o Espiritismo, e essa palavra é: "A negação de todo princípio inteligente fora da matéria".

Estamos tristes de que a ciência seja posta a serviço de uma causa tão triste, ela, porém, não é disso responsável, ela que desvenda sem cessar as maravilhas da criação, e que escreve o nome de Deus sobre cada folha, sobre a asa de cada inseto; os culpados são aqueles que se esforçam em persuadir em seu nome de que, depois da morte, não há mais esperança.

Os Espíritas verão, pois, por esse livro, em que se reduzem os raios terríveis que devem aniquilar as suas crenças; aqueles que o medo de um fracasso poderia abalar, serão fortalecidos vendo a pobreza dos argumentos que lhe são opostos, as contradições sem número que resultam da ignorância e da falta de observação dos fatos.

Sob esse aspecto, essa leitura pode lhe ser útil, não fosse senão para poder dele falar com mais conhecimento de causa, o que não o faz o autor a respeito do Espiritismo, que ele nega sem tê-lo estudado, pelo único motivo que ele nega toda força extra-humana.

Não é de se temer o contágio de semelhantes idéias; elas carregam consigo o seu antídoto: a repulsa instintiva do homem pelo nada.

Proibir um livro é provar que se o teme; nós convidamos a ler o do Sr. Figuier.

(...)"

Um mês depois:

Apreciação da História do maravilhoso, Revista Espírita, abril de 1861

[Apresenta trechos de um extenso artigo do Sr. Escande, redator da Mode Nouvelle, com uma apreciação do livro do Sr. Figuier]

"(...)

Resulta disso que a essa história do maravilhoso falta, ao mesmo tempo, autoridade e proporções. Do ponto de vista dogmático, ela não ultrapassa as negações dos negadores anteriores, não acrescenta nenhum argumento que já desenvolveram, e nessa questão, como em todas outras, não compreendemos a utilidade dos ecos.

Há mais: atormentado pelo desejo de parecer fazer melhor do que Calmeil, Esquiros, Montègre, Hecquet e tantos outros que o precederam, e serão sempre os seus mestres, o Sr. Louis Figuier se perde freqüentemente no labirinto confuso de demonstrações que lhes toma emprestado, querendo apropriá-las, e acaba, às vezes, por rivalizar de lógica com o Sr. Babinet.

Quanto aos fatos, ele os acumulou em imensa quantidade, embora um pouco ao acaso, mutilando uns, afastando outros, se interessando em reproduzir de preferência aqueles que pudessem oferecer um certo atrativo à leitura; o que prova que ele visou principalmente um sucesso fácil, a lutar com interesse com os romancistas atuais, e nos perguntamos como não convidou o editor para compreender a sua obra na "divertida Bibliothèque dês chemins de fer", a fim de que fosse mais direto em direção dessa multidão de leitores que lêem para se distrair e de nenhum modo para instruir-se.

E seu livro é divertido, não o contestamos, se basta a um livro, para possuir esse mérito parecer-se a uma coleção de anedotas composta de historietas acumuladas em face do pitoresco, sem muito cuidado com a verdade; o que não impede de vangloriar-se com isso, a propósito e fora de propósito, de sua imparcialidade, de veracidade: - uma pretensão a mais a acrescentar a todas aquelas que revelamos, e na qual ele se impertiga com tanto mais afetação, que não dissimula o quanto ela lhe faz falta. - Tal como é, não saberíamos melhor compará-lo senão com esses restaurantes-ônibus, pródigos de comestíveis, que quase nada têm de sedução senão a aparência, que servem aos consumidores um pouco ao acaso do garfo.

Mais superficial do que profundo, o importante é sacrificado ao fútil, o principal ao acessório, o lado dogmático ao lado episódico; as lacunas aí são abundantes, aliás tanto quanto as coisas inúteis, e a fim de que nada lhe falte, está cheio de contradições, afirmando aqui o que nega adiante, se bem que se seria tentado em crer que, diferentemente nisso do célebre Pico de Mirandola, - capaz de dissertar de omnire scibili, - O Sr. Louis Figuier empreendeu ensinar aos outros o que ele mesmo não sabia.

(...)" (Sr. Escande, redator da "Mode Nouvelle".)




Pretendo com a reunião desse material estimular a leitura dos artigos da Revista Espírita, dentro de um contexto histórico.

Como podemos ver, uma crítica séria, com argumentos e contra-argumentos, dos quais poderemos, com uma observação atenta, apreender muitas instruções a respeito da Doutrina Espírita, reforçando assim nosso aprendizado sobre os princípios do Espiritismo.

Quero destacar, pelo que observei em outros locais, a importância do trabalho do Sr. Figuier em popularizar a ciência e a história.

É interessante observar também o conhecimento de Kardec ao tratar da antigüidade e universalidade da Doutrina.

Há mais uma observação curiosa.

Apenas no volume quatro o Sr. Figuier faz uma rápida observação sobre "O Livro dos Espíritos".

Ao que Kardec responde, com bom humor:

"O Sr. Figuier termina seu Tratado do Maravilhoso por uma curta notícia sobre 'O Livro dos Espíritos'. Ele o julga naturalmente sob o seu ponto de vista: "A filosofia, disse ele, nele está fora de moda, e a moral dormente."

Teria, sem dúvida gostado de uma moral galhofeira e despertante;mas que fazer dela? É uma moral para uso da alma; de resto sempre terá tido uma vantagem: a de fazê-lo dormir; é para ele uma receita em caso de insônia."

Abraços e boa leitura!